domingo, 5 de julho de 2009

Ficção – O Homem Que Comprou a Morte

Inspirado livremente em um original de Marissa Garrido

No médico, Roberto não podia ter ouvido notícia pior:

- Você tem pouco, muito pouco tempo de vida, Roberto. Não há nada que possa ser feito! – disse o médico, com o semblante pesado.

Revoltado, Roberto deu um soco na mesa e disse:

- Como pode ser isso, doutor? Do que valem os meus milhões, a minha fortuna?

- O dinheiro, Roberto, compra quase tudo… Infelizmente, era essa a notícia que eu tinha que lhe dar…

Roberto saiu do consultório médico apavorado, mas decidido: ele não iria esperar a morte chegar e levá-lo. Ele apressaria as coisas. Foi quando se lembrou de Carlão, com quem havia estudado na época do científico. Procurou Carlão no lugar onde sabia que ele estaria:

- Ih, mano, que tu veio fazer aqui nas minhas paradas?

- Carlão, não me pergunte o porquê, mas eu quero morrer!

Carlão soltou uma gargalhada que podia ser ouvida a quilômetros de distância:

- Para com isso, irmãozinho!

- Carlão, não é brincadeira… Venha comigo até em casa… Lá, te contarei tudo…

Carlão e Roberto se conheciam desde pequenos. Enquanto Roberto tomou o caminho do bem, estudou, fez faculdade e tornou-se um homem importante de negócios, próspero e muito rico, Carlão enveredou pelo mundo do crime e não passava de um reles traficante e matador.

Chegando à casa de Roberto, Carlão ficou deslumbrado com o lugar. Roberto tratou de levá-lo rapidamente para o escritório, abriu um cofre e de lá tirou cerca de 2 milhões de dólares. Em seguida, fazendo tudo muito rápido, pegou uma valise e pôs todo o dinheiro dentro dela:

- Aqui está o dinheiro! Eu quero morrer e sei que você sabe como fazer isso!

- Por que isso, maninho? Tá cheirado? Pirou na batatinha?

- Carlão, eu descobri que tenho uma doença incurável, cara… Logo, essa coisa vai estar me corroendo cada célula… e eu não quero estar vivo para sentir o que essa doença pode fazer em mim… Prefiro ir antes!

Carlão, como era apegado ao dinheiro, rapidamente apanhou a valise e caminhou em direção à porta:

- Você terá seu desejo cumprido nos próximos três dias… Mas não sou eu que vou fazer o serviço

- Quem vai me matar, então?

- Ah, isso tu é que vai ter que descobrir! – disse Carlão, mostrando a valise para Roberto.

- Espere, Carlão! Diga-me pelo menos quem vai fazer o serviço!

- Eu mesmo ainda não sei… E olha, irmãozinho, a grana já tá comigo, é minha, mas tu ainda pode desistir dessa maluquice!

- Não! Eu quero morrer! Eu quero morrer!

Carlão saiu sorrateiro, do jeito que entrou. Roberto nem o acompanhou até a porta.

No dia seguinte, Roberto recebeu um telefonema do médico, que, todo sorridente, lhe disse:

- Roberto, tenho uma ótima notícia para você!

- Que notícia pode ser ótima para um homem que tem pouco tempo de vida?

- Justamente essa… você não tem pouco tempo de vida, meu caro! Você não vai morrer coisa nenhuma… Aqueles exames que eu analisei, pensando que fossem seus, eram de outra pessoa, com as suas características! Você está com uma saúde de ferro!

Roberto ficou pasmado. Desligou o telefone na cara do médico. E agora? Roberto havia comprado a sua morte. O que fazer?

(CONTINUA AMANHÃ)

2 comentários:

ivandro disse...

Esta estoria esta bem curiosa não vejo a hora de ler a continuação estou na expcatativa.

Bronca no Trombone disse...

A parte final já foi postada... É baseada em um teleteatro que o SBT, na época TVS, exibiu em 1982, e depois, com outra roupagem, em 1996. Mas eu mudei várias coisas, por isso anunciei que era inspirado livremente em uma obra de Marissa Garrido...

Abraços, amigo!

André