O BILHETE DE LOTERIA
João sempre comprava de Nestor o bilhete inteiro do gato. Isso era uma coisa que já durava mais de 15 anos. Toda quarta-feira e sábado, Nestor guardava o bilhete do gato para João e, antes de ir para sua casa, passava pela casa de João, entregava-lhe o bilhete, pegava o dinheiro e ia embora, todo contente, pois, pelo menos, um bilhete inteiro ele havia vendido naquele dia, o que lhe garantia um dinheiro para fazer algumas compras.
Nestor contava com esse dinheirinho toda quarta e sábado, pois podia comprar algo no mercadinho e comer melhor, já que vivia sozinho em um modesto barraco na favela e o que comia diariamente era sanduíche ou pão com ovo. Nas quartas e sábados, não: ele comprava alguns legumes e verduras, arroz etc e fazia um jantar digno.
João era, nesses 15 anos, seu melhor cliente, pois nunca deixou de comprar o bilhete do gato. Nunca!
Mas um dia aconteceu algo inesperado. Nestor chegou todo animado à casa de João e disse:
- Tá aqui, seu João… O seu bilhete do gato!
João, muito triste e consternado, disse:
- Amigo, infelizmente, hoje eu não vou comprar o bilhete… Alguma coisa aqui dentro do meu coração está dizendo para eu não comprá-lo. Acho que vou deixar de comprar bilhetes de agora em diante…
Nestor ficou triste, mas, depois, tornou-se um tanto agressivo:
- Qualé, doutô!? O senhor vai fazê eu morrê com um bilhetão destes? É prejuízo na certa… E eu preciso comer…
- Não… Quanto a isso não tem problema… eu pago o valor do bilhete, mas… não quero mais saber de jogo, não!
Nestor, irritado, saiu dizendo:
- Esmola??? Não quero, não!
E se foi. João ficou triste, mas… fazer o quê?
Ao chegar no seu barraco, ligou a TV e já estava na hora de dar o sorteio da Loteria Federal daquele dia. Nestor sentou-se, ficou olhando o bilhete enquanto, na TV, o locutor ia falando os prêmios, do 5º para o 1º.
Quando disse o número ganhador do 1º prêmio, Nestor quase teve um troço: era o bilhete que João não havia querido comprar…
4 comentários:
OLha, se é ficção ou realidade eu não sei, só sei que até me arrepiou.
Muito bom!
Vou confessar: este caso aconteceu com um conhecido de um vizinho meu. O bilheteiro, na verdade, guardava o bilhete do gato para o sujeito havia mais de 20 anos e num certo dia o freguês disse que não queria o bilhete. O vendedor quase voou no pescoço dele, saiu praguejando, dizendo que ia se vingar etc e tal. Chegou em casa, ligou o rádio e minutos depois se descobriu rico...
Obrigado pelo comentário!
Beijos,
André
E o cara que ficou sem bilhete? Como ficou?
A paz
Sinceramente, o restante desta história eu não sei. Meu vizinho, que me contou-a também não sabia. Mas foi uma coisa de Deus mesmo...
Abraços,
André
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