sexta-feira, 17 de julho de 2009

FICÇÃO OU REALIDADE ? – CAP. 4

O BILHETE DE LOTERIA

João sempre comprava de Nestor o bilhete inteiro do gato. Isso era uma coisa que já durava mais de 15 anos. Toda quarta-feira e sábado, Nestor guardava o bilhete do gato para João e, antes de ir para sua casa, passava pela casa de João, entregava-lhe o bilhete, pegava o dinheiro e ia embora, todo contente, pois, pelo menos, um bilhete inteiro ele havia vendido naquele dia, o que lhe garantia um dinheiro para fazer algumas compras.

Nestor contava com esse dinheirinho toda quarta e sábado, pois podia comprar algo no mercadinho e comer melhor, já que vivia sozinho em um modesto barraco na favela e o que comia diariamente era sanduíche ou pão com ovo. Nas quartas e sábados, não: ele comprava alguns legumes e verduras, arroz etc e fazia um jantar digno.

João era, nesses 15 anos, seu melhor cliente, pois nunca deixou de comprar o bilhete do gato. Nunca!

Mas um dia aconteceu algo inesperado. Nestor chegou todo animado à casa de João e disse:

- Tá aqui, seu João… O seu bilhete do gato!

João, muito triste e consternado, disse:

- Amigo, infelizmente, hoje eu não vou comprar o bilhete… Alguma coisa aqui dentro do meu coração está dizendo para eu não comprá-lo. Acho que vou deixar de comprar bilhetes de agora em diante…

Nestor ficou triste, mas, depois, tornou-se um tanto agressivo:

- Qualé, doutô!? O senhor vai fazê eu morrê com um bilhetão destes? É prejuízo na certa… E eu preciso comer…

- Não… Quanto a isso não tem problema… eu pago o valor do bilhete, mas… não quero mais saber de jogo, não!

Nestor, irritado, saiu dizendo:

- Esmola??? Não quero, não!

E se foi. João ficou triste, mas… fazer o quê?

Ao chegar no seu barraco, ligou a TV e já estava na hora de dar o sorteio da Loteria Federal daquele dia. Nestor sentou-se, ficou olhando o bilhete enquanto, na TV, o locutor ia falando os prêmios, do 5º para o 1º.

Quando disse o número ganhador do 1º prêmio, Nestor quase teve um troço: era o bilhete que João não havia querido comprar…

4 comentários:

Sandra F. disse...

OLha, se é ficção ou realidade eu não sei, só sei que até me arrepiou.
Muito bom!

Bronca no Trombone disse...

Vou confessar: este caso aconteceu com um conhecido de um vizinho meu. O bilheteiro, na verdade, guardava o bilhete do gato para o sujeito havia mais de 20 anos e num certo dia o freguês disse que não queria o bilhete. O vendedor quase voou no pescoço dele, saiu praguejando, dizendo que ia se vingar etc e tal. Chegou em casa, ligou o rádio e minutos depois se descobriu rico...

Obrigado pelo comentário!

Beijos,

André

PROJETO NOVO IMPULSO disse...

E o cara que ficou sem bilhete? Como ficou?
A paz

Bronca no Trombone disse...

Sinceramente, o restante desta história eu não sei. Meu vizinho, que me contou-a também não sabia. Mas foi uma coisa de Deus mesmo...

Abraços,

André