Minha vida profissional – PARTE 3

Nem teleteatros nem radioteatros. Essa era a realidade naquele momento. Mas como sou teimoso, continuei a escrever teleteatros – muitos, confesso, ruins à beça –, imaginando que um dia a coisa poderia dar certo, já que eu tinha um vizinho que trabalhava na Record e estava, àquela altura, dirigindo também uma novela na TVS (hoje, SBT): “Conflito”, uma adaptação do Crayton Sarzi de um texto mexicano, de Marissa Garrido.

Um ano se passou e eu continuei a escrever minhas histórias. Aí, a TV Manchete começou a apresentar “Joana”, estrelada por Regina Duarte. Gostei do formato, assisti a vários episódios e, mais uma vez, decidi escrever alguma coisa e procurar a produtora responsável, a Art Vídeo, de propriedade do Guga de Oliveira (irmão do Boni, o todo-poderoso da Globo na época). Escrevi um episódio, “botei embaixo do braço” e fui atrás da tal Art Vídeo. Para minha decepção, a série só teria a primeira temporada, ou seja, mais um furo n’água.

No final do ano, por causa do fato de minha mãe começar a receber espíritos, encasquetei que deveria escrever uma novela espírita. Fui incentivado por uma entidade que “descia” na minha mãe, Ana, que me contou rapidamente como foi o seu desencarne: ela estava com o noivo (os dois já estavam prestes a se casar) em um carro quando sofreram um acidente. Morreram na hora. Disse ao espírito de Ana que esse seria o tema da minha novela. E já tinha um título na cabeça: “Almas Gêmeas”.

E comecei a escrever! Eram capítulos de 16 páginas, o que renderia meia hora de novela (padrão da TVS naquele tempo), com 23 minutos de arte. Chegava a escrever até 3 capítulos em um dia!

Na minha ingenuidade, imaginei que, pelo fato de eu estar escrevendo uma novela, eu conseguiria alcançar o meu sonho, o de entrar na TVS como escritor. Meu avô vivia reclamando dessa minha obsessão pela TVS e dizia que o negócio era eu tentar a Globo. Mas eu queria a TVS porque queria.

Durante aquele ano de 1984, o meu primeiro na faculdade, escrevi mais de 200 capítulos.

Em 1985, quando eu estava escrevendo o capítulo 273, resolvi mandar uma cópia para a TVS, aos cuidados do sr. Crayton Sarzi, diretor artístico da emissora. Fiz uma carta, mencionei minha amizade com o Baroni (o Crayton conhecia bem o Baroni, lógico, pois o Baroni havia dirigido “Conflito”, adaptação do Crayton), meti a cópia do capítulo 273 no envelope e despachei pelo correio.

Minha mãe, que já estava “indo embora”, disse que eu agi feito um tolo, pois muita gente fazia o mesmo que eu. Para me defender, disse-lhe apenas: “Eu sou eu; os outros são os outros. Se eu não tentar, nunca saberei se vou conseguir”…

 

CONTINUA AMANHÃ…