Minha mãe se foi, e eu fiquei meio sem norte. Mas tinha que dar continuidade à vida, afinal, eu estava tendo uma chance que poucos tinham: aos 22 anos de idade, prestes a completar 23, eu havia sido escolhido para adaptar uma novela!
Mas não fiquei metido por causa disso, não. Mantive meu comportamento humilde e simplório.
O restante da novela chegou dias depois, de carro. Li tudo em poucos dias, fiz a sinopse, que rendeu mais de 80 páginas. Nesse ínterim, o Crayton me ligava quase que diariamente, perguntando quando estaria pronto o trabalho. Inclusive, a novela que estava sendo exibida era “Uma Esperança no Ar”, que passou de 45 minutos (com comerciais) para 20 minutos (sem comerciais), a fim de “esperar que eu concluísse o trabalho”. Bom, pelo menos foi isso que eu entendi.
Um mês depois, terminei tudo, levei para o Crayton. Ele, muito abatido, olhou para mim, enquanto pegava as sinopses, e disse:
- O Silvio mandou todo o mundo da dramaturgia embora; só fiquei eu! Não vai mais ter novela!
Cabum!!! Uma bomba caiu sobre minha cabeça…
Me recuperei de mais essa decepção e comecei a escrever uma minissérie, por conta própria, chamada “O Medo de Amar”. Calculei 25 capítulos de 38, 40 páginas cada.
Terminei a minissérie e fiquei sem escrever nada, além de um teleteatro aqui e outro ali, por puro diletantismo. E, é claro, dei prosseguimento ao meu curso de Comunicação Social – ainda não era Jornalismo.
No ano seguinte, em pleno Plano Cruzado do Sarney, o Crayton me chamou lá de novo. Nessa época, eu já cursava Jornalismo propriamente dito:
- Tenho uma novela mexicana, de 204 capítulos, para você traduzir. Você começa a partir do capítulo 50; os anteriores já foram traduzidos.
- Mas, Crayton – disse eu –, eu não manjo nada de espanhol. Só sei falar “Buenos días”, “Buenas noches” e “cuchara”.
Ele me incentivou, dizendo que um bom dicionário me ajudaria. Topei a empreitada. Por capítulo ele me pagaria Cz$ 90,00 (algo em torno de 7 dólares na época).
Disse que, tão logo eu terminasse a tradução, eu adaptaria a novela e esta iria ao ar!
Me animei logo e comecei a trabalhar duro: um capítulo de 16 páginas por dia! Nos fins de semana, eu aproveitava e chegava a traduzir três, novamente me imaginando como autor, mesmo que “postiço”, de uma telenovela…
CONTINUA AMANHÃ…
2 comentários:
André, vc tem algo parecido comigo: narrativa. Uma boa narrativa prende o interesse e faz com que a gente esteja naquele lugar ou situação.
Beijocas douradas! rssss
Amiga, muito obrigado por visitar o meu blog mais uma vez e pelo delicioso e singelo comentário. Quando estou inspirado, as palavras fluem normalmente. E essa série sobre minha vida profissional é algo que mexe muito comigo. Quem sabe, um dia eu chego lá.
Obrigado pelos elogios quanto ao meu texto.
E muitas beijocas multicoloridas para você!
André
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