Não havia casal mais perfeito que Rogério e Selma. 15 anos de casados, nenhuma discussão, nenhuma briga. Harmonia total.
Na rua, andavam como se ainda fossem namorados. Muita gente tinha inveja dos dois.
Filhos, não queriam ter, pois ambos concordavam que um filho poderia desuni-los, assim como acontece muito por aí.
Um dia, Rogério começou a se comportar de maneira diferente com Selma. Uma espécie de ciúme doentio tomou posse de sua mente. Bastava Selma chegar tarde do serviço, Rogério a metralhava com uma infinidade de perguntas, mesmo sabendo que moravam em uma cidade grande, cujo trânsito no final do dia era intenso e os engarrafamentos constantes.
Selma não podia acreditar na mudança do esposo. Este já não era mais carinhoso com ela, não lhe dizia coisas bonitas, não lhe dava mais presentes fora de ocasião, não lhe levava mais sequer à pizzaria do bairro.
Selma, então, desabafou com sua mãe, e esta, a bordo de uma sabedoria à prova de qualquer crítica, apenas lhe disse:
- Minha filha, tá na cara que o seu marido está andando com outra mulher!
- Que nada, mãe! Se fosse isso, ele continuaria me tratando igual, não teria esse ciúme doentio que agora tem de mim…
- Ouça a sua mãe, Selma! O seu marido tem outra mulher!
Selma ficou com aquilo na cabeça por alguns dias, mas logo tratou de esquecer. Começou a sair mais cedo do serviço para não pegar o trânsito pesado do final da tarde e, assim, poder chegar cedo em casa. Isso foi mais um motivo para Rogério desconfiar:
- Ah, tá na cara que você tem coisa com o seu chefe… Agora, todo dia você chega mais cedo em casa… Naturalmente, você joga o maior charme pra cima dele e ele te libera, não é isso?
- Não, Rogério! Pelo amor de Deus! O seu Oscar está até de cara fechada comigo, por mais que eu deixe o serviço sempre em dia!
- Ah, não vem com esse papo de aranha pra cima de mim! Esse seu chefe tá te cantando e você tá se aproveitando!
Selma pensou em largar um tapa na cara de Rogério, mas preferiu não colerizar ainda mais a fera. Ouviu o restante das acusações com os olhos marejados de lágrimas.
O tempo foi passando e Rogério demonstrava cada vez mais ciúmes. Começou a dar incertas no local de trabalho de Selma. Isso a deixava desconfortada perante seus colegas. Logo, as piadinhas começaram a espocar por todos os cantos da empresa.
Um dia, o chefe de Selma chamou-a em sua sala e disse-lhe bem objetivamente:
- O clima aqui ficou insustentável depois que o seu marido resolveu virar freguês da empresa e vir todos os dias aqui nos perturbar. Por isso, Selma, sinto muito, mas… você está demitida!
Selma não tinha argumentos para se defender. Baixou a cabeça, saiu da sala e foi arrumar suas coisas. Naquele dia pensou em chegar logo em casa e ter uma conversa séria com Rogério.
Como foi para casa mais cedo, por ocasião de sua demissão, Selma não pegou trânsito e em menos de meia hora estava em casa.
Ao chegar no portão, notou um carro estranho parado ali na frente. Ficou meio cismada e entrou em casa.
Já na sala, pôde ouvir gemidos vindos do quarto de casal. Aí, as palavras de sua mãe vieram à mente com força total. Selma murmurou, para si mesma:
- Filho da puta… ele está com outra mulher… e no nosso quarto!
Andou decidida até o quarto, pôs a mão na maçaneta, respirou fundo e entrou com tudo.
Aí, viu a cena que jamais imaginaria ver em sua vida: Rogério estava com outro homem na sua cama, e o pior: servindo a esse homem.
Selma saiu em disparada. Rogério tentou alcançá-la, mas foi em vão. Voltou para o quarto e disse para o outro homem:
- Agora, danou-se! Ela já sabe de tudo… O jeito é fazermos o que havíamos planejado caso isso acontecesse…
Rogério fez as malas, enquanto o outro homem botava a roupa. Em meia hora, os dois saíram juntos da casa, entraram no carro de Rogério. Selma, que estava do lado de fora, escondida na sala de uma vizinha, pôde ver tudo. Ela chorava, sem entender nada. A vizinha até tentou acalmá-la, mas não havia muito a ser feito.
Depois desse dia, Selma nunca mais soube de Rogério, e isso já tem exatos 9 anos…
2 comentários:
credo, foquei com dó dela... tadinha
Raphael, acredite, esse caso aconteceu de verdade, não do jeito que eu escrevi - eu dei umas pinceladas de ficção. Mas o mote central é real e a vítima foi uma amiga minha. O pior é que eu conhecia o rapaz, e ele não dava pinta nenhuma. Coisas da vida...
Abraços, amigo!
André
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