Este conto é baseado em um relato publicado pela Revista Planeta (Editora Três) na década de 70.
Osvaldo estava no aeroporto, ansioso pela partida do seu vôo. No entanto, a última vez em que foi ao balcão da companhia aérea, lhe informaram que o vôo iria atrasar, devido a problemas técnicos.
De repente, ele dá um esbarrão em um homem e, quando vê, exulta:
- Jorge! Caramba! Há quanto tempo!
- Como vai, Osvaldo?
- Cara, a gente não se via desde… desde…
- Há mais de 20 anos!
- Puxa, tenho tanta coisa para te contar… mas agora não vai dar… o meu vôo está saindo a qualquer momento… Deixe-me o seu telefone… Quando eu voltar te ligo…
- Você não sabe. – disse Jorge – Estou com uma doença incurável!
Osvaldo mudou de expressão. Levou Jorge para se sentar e os dois ficaram conversando demoradamente.
Os alto-falantes do aeroporto anunciaram a saída do vôo em que Osvaldo deveria estar, mas este, absorto pela conversa com Jorge, não ouviu.
Passado algum tempo, Jorge e Osvaldo se levantaram. Jorge disse:
- Vou ali no banheiro e já volto…
Foi quando Osvaldo olhou o relógio, viu que era muito tarde e correu até o balcão da companhia aérea e perguntou:
- O vôo para o Rio já saiu ou ainda não?
- Senhor, o vôo para o Rio saiu tem mais ou menos uma hora e quarenta e cinco minutos…
Osvaldo ficou chateado, pois ele ia ao Rio fechar um grande negócio. Como não havia nada mais a ser feito, sentou-se ali perto do banheiro masculino e ficou esperando Jorge sair.
Minutos depois, estranhou não ver Jorge sair do banheiro e entrou lá. Constatou que o mesmo estava vazio. Então, perguntou ao servente que estava na porta:
- O senhor reparou em um homem alto, forte e com a cabeça toda raspada, que nem o Kojak?
- Não, senhor… Aqui não entrou ninguém assim, senhor!
- Ele disse que viria ao banheiro e isso já tem uns 10, 15 minutos…
- Neste banheiro ele não veio… Estou aqui desde as 2 da tarde e não veio ninguém como esse moço que o senhor falou aí…
Neste momento, Osvaldo teve um aperto no peito e olhou o relógio, sem querer. Eram 16h55.
Sem mais o que fazer, ainda intrigado por ter perdido o amigo de vista, tomou um táxi e foi para casa.
Chegando lá, 20 minutos depois, sua esposa estava assistindo à televisão, quando, de repente, entrou um plantão noticiário, comunicando que o vôo 325, para o Rio de Janeiro, que havia saído com atraso do Aeroporto de Congonhas, tinha caído, às 16h55, e não houve sobreviventes. Osvaldo murmurou:
- Meu Deus! Era o vôo em que eu deveria estar, o 325, que saiu atrasado…
A mulher nem ouviu direito o que Osvaldo havia dito e continuou com os olhos pregados na TV. Aí, Osvaldo falou para si mesmo:
- Se não fosse eu ter encontrado o Jorge…
Ao falar “Jorge”, a mulher disse:
- Ah, Osvaldo, por falar em Jorge… o seu amigo que você não vê há muitos anos…
- O que tem ele? – perguntou Osvaldo, aflito.
- É triste o que vou contar, mas é preciso… A Leonor, esposa dele, conseguiu localizar o nosso telefone e ligou para avisar que o Jorge faleceu esta manhã… Ele já estava muito doente, condenado, coitado…
Osvaldo ficou mudo. Baixou a cabeça e foi para o quarto. Sua esposa voltou a ver TV…
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