(IMAGEM MERAMENTE ILUSTRATIVA)
Domingo, 27 de abril de 1991. 2h20 (da madrugada mesmo). A campainha da minha casa tocou insistentemente. Acordei, e disse para a minha esposa:
- Aconteceu alguma desgraça!
Ela reclamou do que eu havia dito:
- Não fala isso!
Já me vestindo, para ir atender a porta, disse a ela:
- Você acha que é o quê? Alguém vindo nos avisar que ganhamos na Sena?
Desci. Abri a porta. Era o guarda noturno da rua, o Gerimário, que foi logo dizendo:
- Mataram o Augusto! Foi agora, à 1h30 da manhã...
Augusto era fotógrafo no jornal de bairro em que eu trabalha como colunista e repórter, o "Gazeta do Aeroporto". Chocado, só fiz perguntar ao guarda:
- Como foi isso?
- Ele reagiu a um assalto e levou um tiro no meio da testa!
Era tudo o que o Gerimário sabia.
Aí, fiquei pensando na Daniela, irmã do Augusto, em como ela ia receber a notícia. Saí de casa, andei alguns passos e já havia alguns vizinhos rondando a casa dos dois irmãos. Naquela hora, era possível ouvir os urros que dona Naomi (mãe de Augusto e Daniela) estava dando dentro de casa. Perguntei pela Daniela e me disseram que ela havia ido a um show do Lulu Santos, na Lapa, mas que já deveria estar chegando. Então, decidi ficar ali, de plantão, para ajudar, se fosse preciso, quando Daniela recebesse a notícia.
As horas se passaram e nada de Daniela chegar. Imaginei, então, que ela já havia sido notificada da tragédia ocorrida com o irmão e que, provavelmente, estaria em outro lugar, com parentes, algo assim.
Decidi voltar para casa e dormir, já que eu naquele momento não tinha nada para fazer.
Às 11h, sou acordado pelo meu amigo Marcelo, que entrou no meu quarto, dizendo:
- A Dani morreu!!! A Dani morreu!!!
Levantei-me da cama e disse, calmamente, para Marcelo:
- Marcelão, não foi a Dani, foi o Augusto. Ele reagiu a um assalto e tomou um tiro no meio da testa!
Marcelo me interrompeu bruscamente dizendo:
- A Dani também!!!
Descemos e fomos para a rua. Quase toda a vizinhança estava aglutinada em frente à casa onde viviam os dois irmãos. Os urros de dona Naomi podiam ser ouvidos a qualquer distância.
Com o passar das horas, ficamos sabendo o que, de fato, havia acontecido aos dois irmãos.
Augusto havia ido com mais dois amigos num posto de gasolina, que tinha uma espécie de lanchonete, chamado "Algo Mais". Quando estavam de saída, um homem bem trajado aproximou-se do trio e perguntou:
- Quem é o dono desse carro aí? - apontando justamente para o carro de Augusto.
Este, ingenuamente, sem entender nada, respondeu:
- Sou eu!
O sujeito tirou uma arma, um revólver calibre 22, apontou para o trio e disse para Augusto:
- Você vem comigo... Os outros, vão embora e não olhem para trás.
O bandido fez Augusto entrar no carro e assumir o volante. Depois, entrou do outro lado e sentou-se no banco do carona, sempre apontando a arma para Augusto:
- Se não tiver alarme nem cortador de combustível, eu te solto logo mais adiante!
Quando o bandido virou-se para trás, a fim de se certificar que os outros rapazes haviam ido embora, Augusto vislumbrou a possibilidade de safar-se daquela situação e agarrou a arma do bandido. Os dois lutaram por alguns instantes até que o bandido disparou, acertando o centro da cabeça de Augusto. Saiu do carro e fugiu correndo e ninguém, ninguém mesmo, tentou ir atrás do sujeito...
Com Daniela ocorreu uma situação sui generis. Ela, o namorado e mais um casal haviam ido assistir ao show do Lulu Santos no Olímpia, no bairro da Lapa. Os casais estavam de moto. Na volta, o namorado de Daniela, que estava na frente do outro casal, disse:
- Como é mesmo o caminho?
O casal de trás passou a frente deles e o rapaz da outra moto disse algo como:
- É só seguir a gente...
Instantes depois, um Gol bateu com tudo na moto em que Daniela estava, na garupa. A moça, que àquela altura tinha 17 anos, caiu no chão, tendo parte do seu corpo esmagado. O que aconteceu depois, ninguém sabe ao certo, pois há muitas contradições nos depoimentos. O que se sabe é que esse acidente aconteceu por volta das 3h30 da madrugada e Daniela ficou caída, praticamente morta, no chão, até as 6h30, quando uma viatura do resgate dos bombeiros a levou para o Hospital Metropolitano, na Lapa. Às 8h30, após ter algumas paradas cardíacas, Daniela veio a falecer.
Ou seja: Augusto morreu à 1h30 da madrugada na zona de sul de São Paulo e Daniela, sua irmã, na mesma noite, sofreu um acidente e morreu horas depois, em outro lugar da cidade. Dois irmãos morreram na mesma noite, em locais totalmente distintos. Isso chocou o bairro inteiro. Jornais de vários estados e equipes de TV foram à casa dos pais de Augusto e Daniela em busca de informações sobre a tragédia ocorrrida.
O tempo passou e, numa certa noite, sonhei (será que foi sonho mesmo?) que eu estava em um local parecido a um labirinto, com muitas paredes pintadas de branco, quando, de repente, eu vi o Augusto a minha frente. Perguntei-lhe:
- Tudo bem com você, Augusto?
Ele respondeu, serenamente:
- Tudo...
- Você quer que eu dê algum recado para alguém lá na Terra? - perguntei.
Augusto disse textualmente:
- Diga aos pais que cuidem melhor dos seus filhos.
Meses depois, tive um sonho (sonho?) parecido com Daniela. Estava linda, mas não conversamos.
Os anos se passaram e, infelizmente, alguns "meninos" tomaram um caminho nada aconselhável, mas isso é outro assunto. Deixa pra lá!
11 comentários:
Gostei daqui viu!!! Seguirei o blog... abração!
Obrigado pelo comentário elogioso! Fico feliz de você acompanhar meu blog. É um blog novo, tem pouco mais de 2 meses, mas me esforço para postar coisas legais...
Abraços,
André
André, a história é realmente incrível. Eu voltei a ler novamente. Porque sempre lembramos de fatos que já ouvimos. Tantos, mesmo que de maneira diferentes. Como se uma coisa estivesse ligada a outra.
Bjs
Amiga, toda vez que eu relato esse caso a alguém, me vêm lágrimas aos olhos! E já são quase 20 anos... Eu me lembro de cada detalhe daquela fatídica madrugada...
O cara do IML falou para o meu amigo que já viu família inteira morrer tudo junto em acidente, mas dois irmãos, na mesma noite, em locais totalmente opostos e distantes, não. E ele já trabalhava no IML havia 25 anos...
Obrigado pelo comentário!
Beijão!
André
Coincidência cruel , e triste .
A manchete do jornal em que eu trabalhava foi esta: "Tragédia cala Parque Jabaquara". Fui eu mesmo quem criou a manchete e teve que escrever toda a reportagem. O pai deles disse que eu fui muito fiel aos fatos. Pobre daquela mãe, que teve dois impactos em menos de 8 horas...
Obrigado pelo comentário!
Abraços,
André
Kra que história triste!!!
Parabéns pelo blog, já estou passando o seu link para todo o Paraná!
Abração e parabéns!
Muito triste mesmo! Escrevendo a resposta agora, eu estou todo arrepiado. É como se tudo aquilo que eu contei tivesse ocorrido 5 minutos atrás... Nunca vou me esquecer daquele 27 de abril de 1991...
Obrigado pelo comentário e pela ajuda ao passar meu link para o Paraná todo!
Abração!
André
"-Você quer que eu dê algum recado para alguém lá na Terra?"
Rachei de rir nessa parte!
Quando nós morremos nós vamos pra onde, astronauta?
KKKKKKK
Caio,
Obrigado pela visita e pelo comentário. Dependendo de como se lê esse trecho que eu citei do sonho (sonho?), parece mesmo engraçado. Mas foi o que aconteceu. E o recado tinha a ver, pois os meninos daquela época, bem... nem preciso falar que rumo tomaram.
Abraços,
André
Não sei porque resolvi buscar esta notícia hoje. Lembrei disso por acaso dentro do taxi, pois acho que tenho parentesco com eles por parte de pai. Nunca cheguei a conhece-los pessoalmente apesar de termos uma idade próximo.
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