O RELÓGIO DE LUZ
Eu tinha uns 7 anos quando vi minha avó materna pela última vez. Ela se chamava Elizabeth e tinha ido nos visitar, na casa onde morávamos no bairro da Vila Mariana, em São Paulo, capital.
Quando minha avó se foi, a vi dobrando a esquina da vila onde morávamos e tive a sensação de que nunca mais a veria. E comentei isso com a minha mãe:
- Mãe, acho que não vou mais ver a vovó Elizabeth!
- André, pára de dizer bobagens! Por que isso agora?
Não respondi e fui para o meu quarto brincar...
Alguns meses depois, o relógio de luz, que ficava na parte de fora da casa, começou a fazer um ruído esquisito. Meu pai, que entendia um pouco de tudo, foi lá verificar o que poderia ser. Não conseguiu encontrar nada de errado. Então, lembrou-se que o vizinho, o sr. Ramón, era eletricista e decidiu chamá-lo:
- Ramón, você poderia dar uma olhada no meu relógio de luz? Ele está fazendo um ruído esquisito e desagradável... E já passam das 10 horas da noite. Vai acabar incomodando os outros vizinhos!
- Claro que sim, Christophe! Vou pegar meu material!
O sr. Ramón pegou suas ferramentas e foi dar uma olhada no relógio de luz. Fez uma minuciosa verificação, usando todos os aparelhos de que dispunha. Após uns 15 minutos, sem saber o que estava acontecendo, disse:
- Christophe, o melhor é chamarmos a Light!
Naquela época, década de 60, a Light costumava atender rapidamente aos chamados e, de fato, em menos de meia hora, uma camionete da Light estava encostando no portão lá de casa. Os funcionários desceram – um deles era o técnico responsável -, fuçaram o relógio demoradamente e um deles sentenciou:
- Senhor, esse ruído é muito estranho! Não há nada de anormal com o seu relógio de luz!
Meu pai ficou encafifado, mas como não havia mais nada o que fazer, agradeceu ao pessoal da Light, ao vizinho, o sr. Ramón, e fomos todos dormir.
No dia seguinte, o barulho persistia. Estava incomodando um bocado. Meu pai saiu para o trabalho e minha mãe me convocou para ajudá-la na arrumação do quarto deles. Pusemos várias coisas sobre a cama de casal, entre elas, o telefone. Alguns instantes depois, o telefone tocou e eu atendi. Uma voz feminina do outro lado da linha perguntou:
- Por favor, a Helena está?
- Sim, um momento – disse eu, entregando o telefone para a minha mãe.
Minha mãe pegou o telefone e logo entristeceu. A mulher do outro lado da linha notificou a minha mãe de que a minha avó Elizabeth havia sido encontrada morta, debruçada sobre o tanque, no quintal de sua casa.
Tão logo minha mãe pôs o fone no gancho, o ruído perturbador do relógio de luz cessou.
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